quarta-feira, outubro 07, 2009

" O Rio"


O tempo flui sempre como o rio.
Melancólico e equívoco a princípio, precipitando-se a si mesmo à medida que os anos vão passando.
Como o rio, enreda-se entre as ulvas tenras e o musgo da infância.
Como ele, despenha-se nos desfiladeiros e nas cascatas que assinalam o início da sua aceleração.
Até aos vinte ou trinta anos, pensamos que o tempo é um rio infinito, uma substância estranha que se alimenta de si mesma e nunca se consome.
Chega, porém, um momento em que o homem descobre a traição dos anos.
Chega sempre um momento - o meu coincidiu com a morte da minha mãe - em que, de súbito, a juventude acaba e o tempo degela como um montão de neve atravessado por um raio.
A partir desse momento, os dias e os anos começam a diminuir e o tempo converte-se num vapor efémero, como o que a neve desprende quando derrete ...